Últimos Espectáculos do D. Quixote  

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Se ainda não viu este excelente espectáculo não pode faltar no próximo fim de semana.

D. Quixote
2 últimos espectáculos
Dias 28 e 29 de Abril às 21:30
“É um belíssimo espectáculo, o que Intervalo – Grupo de Teatro oferece nesta adaptação do Quixote. Baseado em dramaturgias de inspiração diferenciada, imprime um tom próprio às cenas do romance cervantino que seleciona, não apenas pelo sentido que a encenação propõe mas por modalidades inesperadas na justaposição dos episódios, com propostas originais de entendimento e exibição. Partindo da ideia da complementação Quitote-Sancho, mais do que da sua antinomia, acentua-se a natureza terrena e vulgar do segundo e a aspiração de nobreza e utopia do primeiro de um modo que as harmoniza numa única concepção heróica qe é a da duplicidade do ser humano, instintiva e cerebral, conciliadora e combativa. E o que é mais original é o sublinhado da fragilidade que em ambos existe, e desde a primeira cena se inculca como extensiva ao homem comum, no caso do espectador, que depara logo de início com a colocação em cena de actores e técnicos, expondo dúvidas e problemas do ofício, que a entrada do duo Quixote-Sancho leva a integrar num mesmo palco que é o da vida. Assim, o teatro comunica-se à assistência como uma arte que a inclui na representação, vista enquanto actuação humana de uma espectacularidade que se vê ao espelho olhando a cena. Isto consegue-se através de uma concepção inteligente e sensível dos dados dramáticos, concretizada em excelentes interpretações, de que é justo destacar a dupla Sancho-Quixote, a um tempo comovente e admirável, num desempenho que muito exige dos actores. A representação vai-se distanciando a pouco e pouco da inserção do quotidiano para isolar em cenas finais, com um trabalho cuidado de corpo, luz e voz, o sentido trágico da expressão quixotesca e a perplexidade dolorida do acompanhamento de Sancho, que de forma alusiva faz o espectáculo regressar à literatura, de onde partiu, para a homenagear. O que era o seu sentido primeiro, e magnificamente conseguiu.”
Maria Alzira Seixo
Professora Universitária
Armando Caldas sabe de teatro e, o que é melhor, gosta obviamente de teatro. E, como gosta, faz questão de partilhar esse gosto com os outros. Para ele, teatro é entretenimento mas não entretenimento fútil: o reportório – já longo – que connosco partilha tem sempre alguma coisa mais, para além do que nos diverte: ensinamentos, debate de ideias, sátira endireitada ao que está mesmo a pedi-la, sugestões de ideários que se recomendam, etc.
Este D. Quixote, por exemplo, baseado na adaptação de Welles, na sua fluência e capitosa simplicidade, propõe-nos um Quixote não tanto gozável como, pelo contrário, idealista e comovente (até à quase loucura). E é este idealismo que sobretudo me toca, numa época e numa sociedade – a nossa – em que os valores do ideal, da integridade, do altruísmo, da fraternidade andam tão deprezados! Este Quixote de Armando Caldas funciona como ferro ao rubro que se aplique a uma chaga horrível e contagiosa.

Eugénio Lisboa
Ex-Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Londres;
Ex-Presidente da Comissão Nacional da UNESCO;
Professor Universitário jubilado